Beijei teu retrato, esborratou-se a tinta Num corpo abstracto que a saudade pinta E a esquadrinhar teus traços já dei por mim louca Diz-me lá Picasso onde ele tem a boca
Esse teu retrato vou expô-lo em Paris Já usado e gasto, ver se alguém me diz Onde é que te encontro, se não te perdi
Por te ter chorado desfiz o meu rosto E num triste fado encontrei encosto Dei-me a outros braços, mas nada que preste Diz-me lá Picasso que namoro é este
Este meu retrato vou expô-lo em Paris E assim ao teu lado eu hei-de ser feliz Se nunca te encontro, nunca te perdi
Sei, não há só tangos em Paris E nos fados que eu vivi Só te encontro em estilhaços
Pois bem, tão certa espero por ti Se com um beijo te desfiz Com um beijo te refaço
Este meu retrato vou expô-lo em Paris E assim ao teu lado eu hei-de ser feliz Se nunca te encontro, nunca te perdi
Sei, não há só tangos em Paris E nos fados que eu vivi Só te encontro em estilhaços
Pois bem, tão certa espero por ti Se com um beijo te desfiz Com um beijo te refaço
"E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre;(…)" (Fernando Pessoa, in "Livro do Desassossego")
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