30 de mar. de 2009

Mulato Bamba

Esse mulato forte é do Salgueiro.
Passear no tintureiro é o seu esporte,
Já nasceu com sorte e desde pirralho
Vive às custas do baralho,
Nunca viu trabalho.
E quando tira um samba é novidade,
Quer no morro ou na cidade,
Ele sempre foi o bamba.
As morenas do lugar vivem a se lamentar
Por saber que ele não quer se apaixonar por mulher.

O mulato é de fato,
E sabe fazer frente a qualquer valente
Mas não quer saber de fita nem com mulher bonita.
Sei que ele anda agora aborrecido
Por que vive perseguido
Sempre, a toda hora
Ele vai-se embora
Para se livrar
Do feitiço e do azar
Das morenas de lá.

Eu sei que o morro inteiro vai sentir
Quando o mulato partir
Dando adeus para o Salgueiro.
As morenas vão chorar,
Vão pedir pra ele voltar
E ele então diz com desdém:
-Quem tudo quer, nada tem.

(Noel Rosa)

23 de mar. de 2009

O negócio é amar

Tem gente que ama, que vive brigando
E depois que briga acaba voltando
Tem gente que canta porque está amando
Quem não tem amor leva a vida esperando
Uns amam pra frente, e nunca se esquecem
Mas são tão pouquinhos que nem aparecem
Tem uns que são fracos, que dão pra beber
Outros fazem samba e adoram sofrer

Tem apaixonado que faz serenata
Tem amor de raça e amor vira-lata
Amor com champagne, amor com cachaça
Amor nos iates, nos bancos de praça
Tem homem que briga pela bem-amada
Tem mulher maluca que atura porrada
Tem quem ama tanto que até enlouquece
Tem quem dê a vida por quem não merece

Amores à vista, amores à prazo
Amor ciumento que só cria caso
Tem gente que jura que não volta mais
Mas jura sabendo que não é capaz
Tem gente que escreve até poesia
E rima saudade com hipocrisia
Tem assunto à bessa pra gente falar
Mas não interessa o negócio é amar...

(Carlos Lyra e Dolores Duran)

21 de mar. de 2009

Grafitti

Jogo rápido, língua ligeira, olhos arregalados
Passam o meu e o seu nomes ligados
Por uma seta de Cupido, filho de Afrodite
O nosso amor é um coração colossal de grafitti
Nos flancos de um trem de metrô
A nossa carne é toda feita de flama e de fama
O rumor do nosso caso de amor
Não se confina a boatos, bares e boates
Conquista as estações, incendeia a praça escarlate
Inflama o aconchego dos lares
Todos os satélites se viram pelo mundo afora
Para transmitir o nosso som, a nossa luz, nossa hora
E nosso beijo que sempre começa na boca e só acaba na poça
Video Clip Futurista
Porque o mundo, ele é assim, ele é nossa conquista
Andy Warhol mil vezes na TV disse:
- "No gossips, Miss"
Darling, querida
Vê se te toca
Leva tua vida sem fuxico nem fofoca…

(Caetano Veloso - Antonio Cícero - Waly Salomão)

18 de mar. de 2009

Olê, Olá

Não chore ainda não, que eu tenho um violão
E nós vamos cantar
Felicidade aqui pode passar e ouvir
E se ela for de samba há de querer ficar
Seu padre toca o sino que é pra todo mundo saber
Que a noite é criança, que o samba é menino
Que a dor é tão velha que pode morrer
Olê, olê, olê, olá
Tem samba de sobra, quem sabe sambar
Que entre na roda, que mostre o gingado
Mas muito cuidado, não vale chorar

Não chore ainda não, que eu tenho uma razão
Pra você não chorar
Amiga, me perdoa, se eu insisto à toa
Mas a vida é boa para quem cantar
Meu pinho, toca forte que é pra todo mundo acordar
Não fale da vida, nem fale da morte
Tem dó da menina, não deixa chorar
Olê, olê, olê, olá
Tem samba de sobra, quem sabe sambar
Que entre na roda, que mostre o gingado
Mas muito cuidado, não vale chorar

Não chore ainda não, que eu tenho a impressão
Que o samba vem aí
É um samba tão imenso que eu às vezes penso
Que o próprio tempo vai parar pra ouvir
Luar, espere um pouco, que é pra o meu samba poder chegar
Eu sei que o violão está fraco, está rouco
Mas a minha voz não cansou de chamar
Olê, olê, olê, olá
Tem samba de sobra, ninguém quer sambar
Não há mais quem cante, nem há mais lugar
O sol chegou antes do samba chegar
Quem passa nem liga, já vai trabalhar
E você, minha amiga, já pode chorar

(Chico Buarque)

Verde

Quem pergunta por mim
Já deve saber
Do riso no fim
De tanto sofrer
Que eu não desisti
Das minhas bandeiras
Caminhos, trincheiras da noite

Eu que sempre apostei
Na minha paixão
Guardei um país
No meu coração
Um foco de Liz
Seduz a razão
De repente a visão da esperança!
Quis este sonhador
Aprendiz de tanto suor
Ser feliz num gesto de amor
Meu país acendeu a cor

Verde as matas no olhar
Ver de perto
Ver de novo um lugar
Ver adiante
Sede de navegar
Verdejantes tempos
Mudança dos ventos no meu coração

(Eduado Gudin e J. C. Costa Netto)

17 de mar. de 2009

Derretendo Satélites

Abro com as mãos, te deixo olhar
Te levo pra dentro devagar
Sempre venho aqui nesse lugar
Tomar xerez da tua boca
Provar o sal do mar, mostrar um verso
Provar um amor eterno
Onde a sua mão está agora?
A minha você sabe bem
Quanto mais tempo demora
Mais violento vem

Falando absurdos
Virando a noite
Perdendo senso
Derretendo satélites
Falando tudo
Voando a noite
Ouvindo estrelas
Derretendo satélites

Uma vez, dez, quinze, vinte, tanto faz
Não tenho mais nada pra fazer
Estou aqui pensando em você
Deixando a água correr
Provei o mar, mostrei um outro verso
Provei um amor eterno
Onde a sua mão está agora?
A minha você sabe bem
Quanto mais tempo demora
Mais violento vem, meu bem
Falando absurdos...
Falando tudo
Virando a noite
Um... dois... três, quatro,
cinco, seis, sete, oito...

(Paula Toller - Herbert Vianna)
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