11 de jul. de 2009

Desespelho

Olhei fixo pro vidro que refletia e num instante ficou turvo e opaco. E permaneceu assim. E eu ali buscando algo que eu sabia existir por detrás ou dentro dele. Mas nada. Nada vinha e eu parado me socorria das lembranças e dos porquês. Sem poder olhar, sem poder ver, só me restava sentir. Eu queria organizar aquilo tudo que sempre me vinha: aquele gosto vermelho na boca, aquela cor insossa de todas as coisas ao meu redor. A mim me falta a palavra e não adianta o sentimento se não há o verbo. "What if". Eu penso. Eu olho e penso. E tento não sentir. Eu não vejo nada. Talvez quem me veja acredite no estratagema minucioso que me consome: estar sem ser. Mas por fim, sempre resta o cheiro amargo da incompletude, do desvelo, do preterimento. Tateio a janela, no alto, é bem alto, é em cima, e pela janela com os braços abertos eu defenestro o vidro escuro que não me serve, nem serviu. E eu fico parado, mas não sinto o vidro enegrecido rompendo-se em milhares de partes no chão. Fico ali, com o único sentido que me resta, à espreita: o som de cada pedaço do vidro espatifado irá me brilhar uma resposta.
(a.l.k.)

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