29 de jul. de 2010
Zambi
É Zambi tui, tui, tui, tui, é Zambi
É Zambi na noite, ei, ei, é Zambi
É Zambi tui, tui, tui, tui, é Zambi
Chega de sofrer, ei!
Zambi gritou
Sangue a correr
É a mesma cor
É o mesmo adeus
É a mesma dor
É Zambi se armando, ei, ei, é Zambi
É Zambi tui, tui, tui, tui, é Zambi
É Zambi lutando, ei, ei, é Zambi
É Zambi tui, tui, tui, tui, é Zambi
Chega de viver, ê
Na escravidão
É o mesmo céu
O mesmo chão
O mesmo amor
Mesma paixão
Ganga-zumba, ei, ei, ei, vai fugir
Vai lutar, tui, tui, tui, tui, com Zambi
E Zambi, gritou ei, ei, meu irmão
Mesmo céu, tui, tui, tui, tui
Mesmo chão
Vem filho meu
Meu capitão
Ganga-zumba
Liberdade
Liberdade
Liberdade
Vem meu filho
É Zambi morrendo, ei, ei, é Zambi
É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi
Ganga Zumba, ei, ei, ei, vem aí
Ganga Zumba, tui, tui, tui, é Zambi
(Edu Lobo - Vinicius de Moraes)
27 de jul. de 2010
Aos pés da santa cruz
Em nome de Jesus um grande amor você jurou
Jurou, mas não cumpriu, fingiu e me enganou
Pra mim você mentiu
Pra Deus você pecou
O coração tem razões que a própria razão desconhece
Faz promessas e juras, depois esquece
Seguindo este princípio você também prometeu
Chegou até a jurar um grande amor
Mas depois esqueceu
(Marino Pinto e José Gonçalves "Zé da Zilda")
Último grande sucesso de Orlando Silva na gravadora Victor, "Aos Pés da Cruz" já era bem conhecido meses antes de sua gravação, quando o cantor o lançou em programas radiofônicos, numa excursão ao Norte e Nordeste.
Abordando o tema da jura descumprida, muito explorado na época ("Aos pés da Santa Cruz / você se ajoelhou / e em nome de Jesus/ um grande amor você jurou / jurou mas não cumpriu / fingiu e me enganou..."), o samba agradou tanto que recebeu imediata continuação - "Quem Mente Perde a Razão" -, de autoria do próprio Zé da Zilda (José Gonçalves) e lançado por Nelson Gonçalves , sucessor de Orlando na gravadora.
Orlando Silva
Co-autor de "Aos Pés da Cruz", Marino Pinto cita na segunda parte o célebre aforismo "O coração tem razões que a própria razão desconhece", do filósofo francês Blaise Pascal. Numa demonstração de sua admiração por Orlando, João Gilberto regravaria este samba em seu primeiro elepê, em 1959. Sua versão, com outras harmonias e uma interpretação lisa, mostraria como composições antigas poderiam ser perfeitamente amoldadas à bossa nova. Assim é que o repertório desse disco (Chega de Saudade) mistura, em completa sintonia, canções nascidas sob o signo do novo movimento com sambas tradicionais como "Morena Boca de Ouro", "Rosa Morena" e este "Aos Pés da Cruz".
Orlando Silva, acompanhado por Miranda e seu Regional.
João Gilberto
Fabiana Cozza
Marina De La Riva
26 de jul. de 2010
Último romance
mais procurar o meu amor.
E quanto levou foi p'reu merecer
antes um mês e eu já não sei...
E até quem me vê lendo o jornal
na fila do pão sabe que eu te encontrei.
E ninguém dirá que é tarde demais,
que é tão diferente assim.
Do nosso amor a gente é que sabe!
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
afim de te acompanhar.
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola!
Eu encontrei e quis duvidar.
Tanto cliché, deve não ser.
Você me falou pr'eu não me preocupar
ter fé e ver coragem no amor.
E só de te ver eu penso em trocar
a minha TV num jeito de te levar...
a qualquer lugar que você queira
e ir onde o vento for, que pra nós dois
sair de casa já é se aventurar.
Vai, me diz o que é o sossêgo
que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar.
(Rodrigo Amarante)
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Post de 21/04/08, atualizado em 26/07/10
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25 de jul. de 2010
Nenhuma dor
Tem nos olhos mil brinquedos
De magoar o meu amor
Minha namorada, muito amada
Não entende quase nada
Nunca vem de madrugada
Procurar por onde estou
É preciso, ó doce namorada
Seguirmos firmes na estrada
Que leva nenhuma dor
Minha doce e triste namorada
Minha amada, idolatrada
Salva, salva o nosso amor
(Torquato neto - Caetano Veloso)
Giulietta Masina
Pálpebras de neblina, pele d'alma
Lágrima negra tinta
Lua, lua, lua
Giuletta Masina
Ah, puta de uma outra esquina
Ah, minha vida sozinha
Ah, tela de luz puríssima
(existirmos a que será que se destina)
Ah, Giuletta Masina
Ah, vídeo de uma outra luz
Pálpebras de neblina, pele d'alma
Giuletta Masina
Aquela cara é o coraçao de Jesus
(Caetano Veloso)
Suburbano Coração
Que horas são
Isso não são horas, que horas são
É você, é o ladrão
Isso não são horas, que horas são
Quem vem lá
Blim blem blão
Isso não são horas, que horas são
A casa está bonita
A dona está demais
A última visita
Quanto tempo faz
Balançam os cabides
Lustres se acenderão
O amor vai pôr os pés
No conjugado coração
Será que o amor se sente em casa
Vai sentar no chão
Será que vai deixar cair
A brasa no tapete coração
Quando aumentar a fita
As línguas vão falar
Que a dona tem visita
E nunca vai casar
Se enroscam persianas
Louças se partirão
O amor está tocando
O suburbano coração
Será que o amor não tem programa
Ou ama com paixão
Mulher virando no sofá
Sofá virando cama coração
O amor já vai embora
Ou perde a condução
Será que não repara
A desarrumação
Que tanta cerimônia
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração
(Chico Buarque)
17 de jul. de 2010
This bitter earth - On the nature of daylight
Well, what fruit it bears
What good is love
mmmm that no one shares
And if my life is like the dust
oooh that hides the glow of a rose
What good am I
Heaven only knows
Lord, this bitter earth
Yes, can be so cold
Today youre young
Too soon, youre old
But while a voice within me cries
Im sure someone may answer my call
And this bitter earth
Ooooo may not
Oh be so bitter after all
This bitter earth
(Clyde Otis)
Dinah Washington & Max Richter - This bitter earth - On the nature of daylight
(mixed by Robbie Robertson)
On the nature of daylight
(Max Richter)
15 de jul. de 2010
Chão de Esmeraldas
Um chão de esmeraldas
Quando levo meu coração
À Mangueira
Sob uma chuva de rosas
Meu sangue jorra das veias
E tinge um tapete
Pra ela sambar
É a realeza dos bambas
Que quer se mostrar
Soberba, garbosa
Minha escola é um catavento a girar
É verde, é rosa
Oh, abre alas para a Mangueira passar
(Chico Buarque/Hermínio Bello de Carvalho)
Choro bandido
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim
Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim
Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons
(Edu Lobo / Chico Buarque)
14 de jul. de 2010
Cry me a river
You cry the long night through
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you
Now you say you're sorry
For being so untrue
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you
You drove me, nearly drove me, out of my head
While you never shed a tear
Remember, I remember, all that you said
You told me love was too plebeian
Told me you were through with me and
Now you say you love me
Well, just to prove that you do
Come on and cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you
I cried a river over you
I cried a river...over you..
(Arthur Hamilton)
13 de jul. de 2010
Alta noite
No caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia
Ninguém com os pés na água
Nenhuma pessoa sozinha ia
Nenhuma pessoa vinha
Nem a manhãzinha, nem a madrugada
Nem a estrela-guia, nem a estrela d'alva
Alta noite já se ia, ninguém na estrada andava
No caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia
Ninguém com os pés na água
Nenhuma pessoa sozinha ia
Nenhuma pessoa vinha
Nem a manhãzinha, nem a madrugada
Nem a estrela-guia, nem a estrela d'alva
Alta noite já se ia, ninguém na estrada andava
No caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia
(Arnaldo Antunes)
Apelo
Ah, meu amor não vás embora
Vê a vida como chora, vê que triste esta canção
Não, eu te peço, não te ausentes
Pois a dor que agora sentes, só se esquece no perdão
Ah, minha amada me perdoa
Pois embora ainda te doa a tristeza que causei
Eu te suplico não destruas tantas coisas que são tuas
Por um mal que eu já paguei
Ah, minha amada, se soubesses
Da tristeza que há nas preces
Que a chorar te faço eu
Se tu soubesses num momento todo arrependimento
Como tudo entristeceu
Se tu soubesses como é triste
Perceber que tu partiste
Sem sequer dizer adeus
Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus
(falado por Vinícius de Moraes)
De repente do riso fez-se o pranto,
silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento,
Que dos olhos desfez a última chama,
E da paixão fez-se o pressentimento,
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente não mais que de repente,
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo, o distante,
Fez-se da vida uma aventura errante,
De repente não mais que de repente.
(novamente no ritmo da música)
Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus.
E de novo cairias
A chorar nos braços meus.
(Baden Powell e Vinícius de Moraes)
12 de jul. de 2010
11 de jul. de 2010
6 de jul. de 2010
Glass N´Glue - Good Enough
I’m easy you know?
Treat me right fuck me good,cause if you don’t I’ll
turn you into a bad dream
into a fucking bad dream
I’m not this little girl, playing the part of an adult
This week i need some care
next week i’m not even there
I think you should try me,
But please don’t try so hard baby
Cause darling i’m easy
Darling i’m easy
Catch me if you can
Cause if you’re not good enough i’ll slip through your hands
Please don’t mess up with me
Cause if you do i’ll turn you into a bad dream
turn you into a bad dream
a bad dream
Turn you into a bad dream
Bad dream
I’ll Turn you into a bad dream
A bad dreeeeam
Into a bad dream, YYYEEEEAAAAHhhhh
I’m not this little girl playing the part of an adult
This week i need some care,
Next week im not even there
I think you should try me (ah ah ah)
But please don’t try so hard baby
Cause, darling im easy
Darling im easy
Catch me if you can
Cause if you’re not good enough i’ll slip through your hands
Please don’t mess up with me
Couse if you do i’ll turn you into a bad dream
Turn you into a bad dream
(Into a bad dream)
Turn you into a bad dream
(Bad dream)
I’ll Turn you into a bad dream
(A bad dreeeeam)
Into a bad dream
Good luck to us
Good luck to us
Good luck to us
I wish you a good luck!
...bad dream......
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Cause Im easy
Darling im easy
Im not a little girl
Im not a little girl
Darling im easy
Im not a little girl
Darling im easy
Im not a little girl
Glass N´Glue - Bipolar
Im walking down avenue a
Im wallking down avenue b
I won’t coat check your shit
I won’t serve all your drinks no
I have much bigger plans
I have much bigger plans
I won’t coat check your shit
I won’t serve all your drinks no!
Im walking down into the park
I wanna see your face light up in the dark
I wanna go to where you are
I wanna hold your hand and look up to the stars
I won’t work in your store
I won’t open your door no!
I have much bigger plans
I have much bigger plans oh ohhhhh!
I’m walking down avenue a
I’m wallking down avenue b
I wanna go to max fish!
I wanna go to max fish!
I want to move to 8 and 3rd
Play my guitar is when life is really worth
Sing you a song hold you tight
And watch the fireplace,time will just fly by
I won’t coat check your shit
I said
I won’t coat chek your shit
I said
I won’t coat chek your Shit
I won’t serve all your drinks noooooo,ohhhhh
I have much bigger plaaanss
I have much bigger Plaaaannnssss
5 de jul. de 2010
Intimidade
— Linda, tem uma porra dum pedaço de alface na minha escova!
— ...
— Tu andou usando a minha escova de dente?
— Claro que não! – ela gritou da sala.
— E desde quando eu como alface? Eu não como planta e tu sabe muito bem. Por que tu usou minha escova?
— ...
— Linda, por que tu usou a minha escova?
— Eu perdi a minha. Ela perdeu a escova dela.
— Como é que é?
— Perdi a minha escova, droga! Usei a tua uma vez só, não vai te matar.
— Como assim perdeu a tua escova? Como alguém per¬de uma escova de dentes?
— Sei lá, caralho, ela sumiu.
Como faria ela entender que não se usa a escova de dentes de outra pessoa? Linda é assim mesmo. Ela é capaz de perder sua própria escova de dentes. Ela dorme no meu apar-
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tamento nos fins-de-semana e às vezes aparece também nos dias úteis, pra comer minha comida, beber minha cerveja e dormir abraçadinha comigo. Somos como todo mundo, precisamos disso de vez em quando. Ao voltar pra sala, esperava que ela pedisse desculpas por ter usado minha escova. Ela nem olhou pra mim, estava futricando alguma coisa entre os dedos do pé. Eu ainda segurava a escova de dentes, ofendido. Precisava de alguma indicação de arrependimento dela, só pra neutralizar este meu ódio irracional causado pelo pedaço de alface, um ódio que no momento me parecia justificado, e cuja banalidade só pude perceber minutos mais tarde. A indiferença dela me irritou tanto que atirei a escova de dentes na sua direção.
— Agora pega essa merda pra ti.
Eu sei que não precisava. Mas pequenas causas de orgulho e ódio são excelentes motivadoras de atos impensados. Ela catou o cinzeiro de vidro e jogou na minha cara, acertou na testa.
— Qual é a tua? Imbecil.
Dei um tapa na cara dela.
Tirei toda a roupa de Linda e deitei-a de bruços na cama. Ela ainda chorava. Lambi a parte interna de suas coxas. Ela botou os fones de ouvido nas orelhas e ligou o walkman. Depois empinou um pouco a bunda, mas não muito, senão
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sente dores nas costas. Como sempre, começou a falar, agora contando uma história sobre o irmão menor dela, que certa vez trouxe duas tartarugas para criar em casa. Ele construiu um viveiro enorme para elas, com mais de um metro quadrado. Tinha um laguinho, plantas, pedras, uma caverna, tudo que uma tartaruga poderia desejar. Com a cara enfiada entre as nádegas dela, eu podia escutar por trás deste fascinante monólogo o som dos fones de ouvido, era uma fita da PJ Harvey. Mantinha os olhos sempre fechados. Desde o primeiro dia, o irmão colocou folhas de alface no viveiro das tartarugas (creio que não foi proposital a escolha de um epi¬sódio envolvendo alface, deve ter sido uma associação men¬tal inconsciente, não pude culpá-la). No primeiro dia elas não comeram. Nem no segundo. Aproximei o dedo da boca para cobri-lo de saliva. Toquei o cu de Linda, ela interrompeu por alguns décimos de segundo a sua história. Depois continuou, só que mais pausadamente. Tinha parado de chorar, e sorria docemente enquanto falava. O irmão experimentou dar pedaços de carne às tartarugas, mas elas rejeitaram. Depois de cinco dias de jejum, elas estavam bastante debilitadas. Os cascos amoleceram. O cuzinho dela rendia-se, ma¬cio. Enfiei devagar, medindo no mesmo ato violência e carinho. A ternura que sentia por Linda naquele instante era intolerável. Ela ficou quieta por um tempo. Logo depois retomou a narrativa, agora pontuada por expirações curtas e vigorosas. As tartarugas estavam quase mortas, quando ocorreu ao irmão colocar as folhas de alface no laguinho. Os bichos pularam para dentro d'água e devoraram compulsiva-
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mente a verdura. Como poderia saber que só comiam dentro da água? Mas as tartarugas estavam salvas. Peguei um dos fones, botei na minha orelha e beijei Linda até que nossas bocas já não soubessem mais o que fazer. Quando a fita ter¬minou ela disse:
— Vamos no cinema.
(é que logo em seguida ao tapa percebi todo o absurdo daquele nosso enfrentamento, ela nem botou a mão no rosto nem nada, apenas encarou-me incrédula e esperou, pois já sabia que eu pediria perdão, me arrependeria, me sentiria mal, um merda, um filho da puta. Abracei-a com força naquele silêncio que vem depois de todo tapa, apaziguamo-nos, não havia problema que ela usasse minha escova, que usasse qualquer coisa, mas às vezes precisamos de inimigos para descarregar nossa amargura. Realizei meu ataque utilizando como pretexto o primeiro evento disponível e espera¬va que ela me desse razão para que todo o meu pequeno ódio pelo mundo tivesse fundamento. Não fui capaz de ver as coisas do ponto de vista de Linda, que ela pudesse usar a minha escova de dentes caso precisasse era um pressuposto de nossa intimidade, algo importante para ela. Abracei-a e pedi desculpas muitas vezes, ela chorou mas senti-me perdoado, nos beijamos, acontece, a gente briga de vez em quando eu falei, ela sorriu um pouquinho, é, acontece. Fomos para o
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quarto, enfiei a mão por dentro de sua camiseta, acariciei suas costas, a gente se ama, ela ainda chorava.)
Fomos assistir uma comédia romântica bobalhona. Linda adorava melodramas, dizia que "às vezes é bom ver filmes desse tipo". Vinte minutos de caminhada até o cinema, escurecia. Antes do filme sentamos para tomar um café. Linda fumou três cigarros, quantidade que ela costuma consumir em dois dias. Não gosto quando ela fuma, pega um gosto horrível na boca. Na bilheteria do cinema, vimos o cartaz do filme escolhido. Tinha a Julia Roberts. Entramos atrasa¬dos numa sala de projeção com uma dúzia de sujeitos espalhados aos pares pela platéia. Sentamos numa fileira do fundo. Quando o filme começou ela encostou a cabeça no meu ombro. Segurei sua mão.
O início era o mesmo de todo filme norte-americano. Uma divertida cena introdutória, seguida da apresentação de cada um dos personagens. Linda me sussurrou no ouvido que precisava ir no banheiro. Depois que saiu, desliguei minha atenção do filme e caí num fluxo de devaneios. Imaginei minha vida sem Linda e compreendi o quanto verdadeira¬mente precisávamos um do outro. Sem ela eu tinha uma rotina de aulas e emprego, uma família no interior, um apartamento vazio, pouco mais do que isso. E eu, de certa forma, era pra ela um salva-vidas no meio de pais conservadores e
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pessoas, na sua opinião, idiotas. Todos eram idiotas.
Linda não retornava. Saí do cinema e gritei por ela no banheiro feminino, sem obter resposta. Procurei-a nos bares e cafés ao redor, mas ela havia desaparecido.
Concluí que devia ter voltado para o meu apartamento, ela tinha uma cópia da chave e dificilmente teria ido pra casa da família. Retornei para o meu prédio sem saber ao certo como reagiria ao encontrá-la, ou que explicação ela me daria, caso houvesse alguma. O apartamento, porém, estava vazio.
Sentei numa mesa da calçada e pedi um copo de trigo velho e uma Coca-Cola. Os bares já estavam todos cheios, passava das nove horas da noite. Reconheci uma pessoa aproximando-se a partir da calçada oposta. Era o Beto, um amigo dos tempos de colégio, que eu encontrava ocasionalmente pela noite. Sentou-se na minha mesa.
— E aí, como é que tá? Eu sabia que ia encontrar alguém pra tomar uma ceva!
— Oi.
— Vou baixar uma ceva pra nós!
Apenas sacudi a cabeça, elevando meu copo de trigo velho no ar. Torci para que ele entendesse a mensagem sem que eu precisasse dizer mais nada.
— Ah, ok. Mas vou tomar uma sozinho, então.
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— E aí, o que tem feito? Cadê a Linda?
— Boa pergunta.
— Vocês ainda tão juntos?
— Sim.
— Tou com saudade dela.
— ...
— Como vai a faculdade? Publicidade, né?
— Jornalismo.
— Isso. Tá curtindo?
— Não. Um pouco.
Ele encheu o copo com cerveja e bebeu num gole só. Olhou para baixo e depois para os lados. Tirou uma caixa de lenços de papel do interior da mochila, puxou um e assoou o nariz. Olhou para baixo novamente, e depois pra mim:
— Tu tá a fim de ficar sozinho?
— Na verdade, sim. Não leva a mal.
— Tudo bem. A gente se fala uma outra hora, então. Vou indo.
Esvaziou a garrafa no copo e tomou tudo, apressado. Nos cumprimentamos e ele se afastou. Chamei o garçom e pedi mais um copo de trigo velho. Bebi sozinho até que o álcool se tornasse um assunto mais urgente do que a ausência de Linda.
Entrei no apartamento, fui imediatamente ao quarto e encontrei ela deitada de lado na cama. Tirara apenas os sapa-
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tos e dormia com a boca entreaberta. Me ajoelhei e observei mais de perto seu rosto, parcialmente encoberto pelos cabe¬los emaranhados. Tinha olheiras, e a maquiagem preta e azul dos olhos estava um pouco borrada, enchendo de tristeza a cara bonita.
Voltei para a sala e avistei sobre a poltrona uma garrafa de vodka quase vazia. Estava aberta, deitada de lado assim como Linda sobre a cama, e uma porção de bebida havia escapado pela gargalo e molhado a almofada.
Peguei um copo na cozinha, enchi com água da torneira e bebi, repetindo mais duas vezes. No caminho para o banheiro, estranhei a presença de um saco plástico sobre a mesa da sala. Tinha no lado de fora o logotipo de uma farmácia. De dentro do saco, tirando uma por uma, contei vinte e oito escovas de dente.
(Daniel Galera, Dentes guardados. Livros do Mal: Porto Alegre, 2004. 3ª. ed. revista)
Olhos do coração
Que vida, que pulsação
Quem ouve, sente, acredita
Nos olhos do coração
Rei negro chamado Charles
Reinando em tantas canções, yeah
Stevie maravilhando
O mundo com outra visão são...
Eles...
Som que vai longe
Eles...
Sempre com a gente
São eles...
Brilho na escuridão
Luz que não se apaga nunca
Iluminação
José que traz Porto Rico
No sangue, voz e violão, yeah
Feliciano lamento
Trazendo dentro um vulcão são...
Eles...
(Tunai e Sérgio Natureza)
4 de jul. de 2010
Cuba
É o Papa que vai a Cuba
Quem acha que a vida é dura
Na vida não tem tal praça
Oi, não, se Cuba não vai, é o Papa que vem
Quem pensa que é, não sabe demais
Porque, malandro que é malandro é malandro demais
malandro que é malandro é malandro demais (2x)
malandro que é malandro
Se Cuba não vai ao Papa
É o Papa que vai a Cuba
Quem acha que a vida é dura
Na vida não tem tal praça
Oi, não, se Cuba não vai, é o Papa que vem
Quem pensa que é, não sabe demais
Porque, malandro que é malandro é malandro demais
malandro que é malandro é malandro demais (2x)
malandro que é malandro
Para Xangô, Iemanjá (4x)
Minha vida é o mar
O que da vida posso ter
como a vida deve ser
como o mundo deve ser
como a vida deve ser
com as balizas do nosso sistema
encaminhando seus filhos pra guerra
como a vida deve ser
O que da vida posso ter
como o mundo deve ser
nas as balizas do nosso sistema
encaminhando seus filhos pra guerra
(Solo)
no meio disso tudo eu não me envolvo não me sujo
até um tempo atras eu era um pobre vagabundo
andava pela rua nenhum trocado
ia a pé pra todo lado maltrapido e maltratado
maltrapido e maltratado falido e mau cuidado
quem vai abrir pra mim as portas da Babylonia
Se Cuba não vai ao Papa
É o Papa que vai a Cuba
Quem acha que a vida é dura
Na vida não tem tal praça
Oi, não, se Cuba não vai, é o Papa que vem
Quem pensa que é, não sabe demais
Porque, malandro que é malandro é malandro demais
malandro que é malandro é malandro demais (2x)
malandro que é malandrooo
Para Xangô, Iemanjá (4x)
Se aquilo tudo é o mar
Faça então desfaça
Quem tem fé em Deus se afasta
Não falei mania de Graça
Fala da zica só atrasa
Se Cuba não vai ao Papa
É o Papa que vai a Cuba
Quem acha que a vida é dura
Na vida não tem tal praça
Oi, não, se Cuba não vai, é o Papa que vem
Quem pensa que é, não sabe demais
Porque, malandro que é malandro é malandro demais
malandro que é malandro é malandro demais (2x)
malandro que é malandrooo
Para Xangô, Iemanjá (4x)
Feira da Ceilândia (Senzala)
Cinto da moda ( 4x )
Sinto vontade, grande necessidade de comprar. roupa xadrez, meia longa, bota preta pra arrasar. estilo colegial: brega, veste mal vamos parar.
Mulheres dêem à cor o seu destaque. esbanjem no batom e no esmalte. muita roupa já é coisa de perua. daqui a pouco tem gente andando nua.
A feira da ceilândia te...
Sinto vontade, grande necessidade de dançar. danço o axé, o pagode. o rock vai ter esperar. quarteto, quinteto estrangeiro é o som que vai rolar.
Guarde seu velho cd na estante. agora você vai curtir um funk. lambada som da hora na senzala. melhor dançar agora porque passa.
A feira da ceilândia te...
Sinto vontade, grande necessidade de observar. onda do norte, coisa de nobre. vamos copiar. desde filme titanic à sanduíche ...
Virgindade lá é coisa do passado. "e se voltar à moda o quê que eu faço?!". brasil, não é que há algo que te estrague. mas ”santo de casa não faz milagre”.
A feira da ceilândia te...
Mas o que você precisa mais na feira não se pode encontrar: razão, consciência, senso, inteligência, uma cabeça pra pensar.
Isso só no shopping lá do centro você vai achar
Se tiver dinheiro pra comprar. boa aparência pra entrar. não tenho dinheiro pra comprar.
Hoje eu vou voltar pra feira. pra feira de ceilândia hoje eu vou voltar pra feira. lá tem pastel e tem caldo de cana.
(Ellen Oléria)
Só pra constar
Passo pela porta da cozinha
Um dia
Hoje entre nós, chão
Mas abra o portão e não
Não some de mim
Só pra constar, amor
Um zero, um nove e um
Pra te contar sem te dizer
Cheirinho de lar, pra embriagar, pra me prender
As novas marcas d´água estou guardando pra você
Espera
Eu vou, eu vou
(Ellen Oléria)
Testando
Eu, eu não domino a esgrimaa
Mas minha palavra,
a minha palavra, a minha palavra é afiada e contamina
Minha ginga, meu jeito, minha voz que vem do gueto
Minha raça, minha cara, tua cara a tapa, o meu cabelo crespo
Não ponho na chapa, aguenta a minha marra
Teu cartão não me paga
Minha ancestralidade no peito eu não tô te vendendo aaa
Quem bate em minha postura pura malandragem
Mas minha superação foi com muita dificuldade
Não é contanto por contar, não é por vaidade
Mas peito pra encarar a vida louca com coragem
Não é pra qualquer um, minha mãe é minha testemunha
eu preço, zelo, descontentamento
Muita acusação sem inspiração, sem passo e sem pão
é Mãe não se preocupa eu dou meu pulinhos, eu dou meu jeito
Eu sempre me virei e é claro eu precisei de ajuda
conhece a carne fraca? eu sou do tipo carne dura
Tem gente boa no mundo isso eu já sei
Também vi o lado violento dos que não temem a lei
Tanto faz lei divina, tanto faz lei dos homi
Não importa por roupa chique ou dar seu sobrenome
A mulherada já sabe o cotidiano da rua
Anoiteceu sozinha cê não tá segura
Alô alô som Teeeeste um, dois, três, testando
Suor e choro a noite é fria
Pra esses lances ninguém nunca está preparado
Depois de um dia duro meu corpo foi travado
Assalto a mão armada
Levaram um violão, o microfone emprestado
eu chorei, eu chorei
A bandidagem não acompanhou a estereotipia
Três garotos tipo de uns 15 anos
Eu nunca vi na área esses garotos brancos
Duas meninas loiras com boné cor de rosa
Reescrevendo as linhas da conhecida históriaaa
Andando na rua de noite muita gente branca já fugiu de mim
A minha ameaça não carrega bala mas incomoda o meu vizinho
O imaginário dessa gente dita brasileira é torto
Gritei pela minha pele, qual será o meu fim?
Eu não compactuo com esse jogo sujo
Grito mais alto ainda e denuncio esse mundo imundo
A minha voz transcende a minha envergadura
Conhece a carne fraca? eu sou do tipo carne dura
Alô alô som Teeeeste um, dois, três, testando
Tá ficando bom mas vai ficar melhor....
Basalto que emana dos meus poros
Minha consciência é pedra nesse instante
(Ellen Oléria)
Beijinhos no rosto
Foi, respondi acendendo um cigarro.
Gostaria de marcar a cirurgia para logo depois desses exames que estou pedindo. Já lhe falei da relação entre o câncer da bexiga e o fumo?
Não me lembro.
Três em cada cinco casos de câncer na bexiga são ligados ao fumo. Esse vínculo entre o fumo e o câncer da bexiga é especialmente forte entre os homens.
Prometo que vou deixar de fumar.
Este ano, no mundo, ocorrerão cerca de trezentos mil novos casos de câncer de bexiga.
É mesmo?
É o quarto tipo de câncer mais comum e a sétima causa de morte por câncer.
Tive vontade de mandar o Roberto parar de me chatear, mas ele, além de meu médico, era meu amigo.
O câncer de bexiga, ele continuou, pode ocorrer em qualquer idade, mas usualmente atinge pessoas com mais de cinqüenta anos. Você faz cinqüenta anos no mês que vem. É um mês mais velho do que eu.
Estou atrasado para um compromisso, tenho que ir, Roberto.
Não se esqueça de fazer os exames.
Saí correndo. Eu não tinha encontro algum. Queria fumar outro cigarro em paz. E também precisava encontrar alguém que me arranjasse um revólver. Lembrei-me do meu irmão.
Telefonei para ele.
Você ainda tem aquela arma? Tenho. Por quê?
Quer vender?
Não.
Você não tem medo de que um dos teus filhos ache o revólver e dê um tiro na cabeça do outro? Uma coisa assim aconteceu outro dia. Deu no jornal.
Meu revólver está trancado numa gaveta.
O desse infeliz, segundo dizia o jornal, também.
Eu não li nada sobre isso.
Você sempre diz que só lê a manchete do jornal. Isso não dá manchete, acontece todo dia.
E como é que foi?
O menino estava brincando de mocinho e bandido com o irmão e a desgraça aconteceu. Qualquer dia vou ler no jornal que um sobrinho meu matou o outro numa brincadeira.
Deixa de ser agourento.
Vou passar aí hoje à noite.
Chegando na casa do meu irmão ele me disse, olha aqui esta gaveta, você acha que dois pirralhos podem arrombar essa fechadura?
Podem. Como? Quer ver eu arrombar essa merda?
Você é um adulto.
Onde é que está a Helena?
Está no quarto.
Chama ela aqui.
Contei para a mulher dele a tal notícia do jornal, que eu inventara.
Vivo pedindo ao Carlos para se livrar dessa porcaria, mas ele não me ouve, disse Helena.
Eu vim aqui para comprar o revólver, mas esse idiota não quer vender.
O que você vai fazer com o revólver?, perguntou Carlos.
Nada. Possuí-lo, apenas. Eu sempre quis ter um revólver.
Helena e o meu irmão discutiram algum tempo. Ela venceu o debate ao dizer que um dos meninos podia pegar o chaveiro quando meu irmão estivesse dormindo, ou quando ele esquecesse o chaveiro num lugar onde os moleques pudessem achar, ou em outra ocasião qualquer. Afinal, Carlos abriu a gaveta e tirou o revólver.
E você, para piorar as coisas, mantém esse troço carregado, eu disse, depois de examinar a arma.
Maluco irresponsável, disse Helena, furiosa, você sempre me disse que o revólver não tinha balas. Olha, deixa o seu irmão levar essa porcaria com ele, agora. Do contrário eu saio de casa e levo as crianças.
Peguei o revólver e fui para o meu apartamento. Telefonei para a minha namorada. Senti vontade de ir ao banheiro mas sabia que ia ver sinais de sangue na urina, o que sempre me dava calafrios. Isso podia atrapalhar o meu encontro. Urinei de olhos fechados e também de olhos fechados acionei a válvula de descarga várias vezes.
Enquanto esperava minha namorada, fiquei pensando no futuro, fumando e tomando uísque. Eu não ia ficar a vida inteira enchendo com xixi uma bolsa colada no corpo, que depois tinha que ser esvaziada, sei lá de que maneira. Como eu poderia ir à praia? Como poderia fazer amor com uma mulher? Imaginei o horror que ela sentiria ao ver aquela coisa.
Minha namorada chegou e fomos para a cama.
Você está preocupado com alguma coisa, ela disse, depois de algum tempo.
Não estou me sentindo bem.
Não se preocupe, querido, podemos ficar apenas conversando, adoro conversar com você.
Essa é uma das piores frases que um homem pode ouvir quando está nu com uma mulher nua na cama.
Levantamos e nos vestimos sem olhar um para o outro. Fomos para a sala. Conversamos um pouco. Minha namorada olhou para o relógio, disse tenho que ir, querido, me deu uns beijinhos no rosto, foi embora e eu dei um tiro no peito.
Mas esta história não termina aqui..Eu devia ter atirado na cabeça, mas foi no peito e não morri. Durante a convalescença, Roberto me visitou várias vezes para dizer que tínhamos pouco tempo, mas ainda podíamos fazer a cirurgia da bexiga, com êxito.
Isso foi feito. Agora eu esvazio com facilidade a bolsa de urina. Ela fica bem escondida sob a roupa, ninguém percebe que está ali, sobre o meu abdome. O câncer parece que foi extirpado. Não tenho mais namorada e estou viciado em palavras cruzadas. Deixei de ir à praia. Fui uma vez, para jogar o revólver no mar.
(Rubem Fonseca. Secreções, excreções e desatinos, Companhia das Letras - São Paulo, 2001, p. 59)
Preciso dizer que te amo
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo, que medo
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto
E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto
Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira
Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto
(Bebel Gilberto / Cazuza / Dé)
Ainda é cedo
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei
Ela fazia muitos planos
Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir
Mas, egoísta que eu sou,
Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar
Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais ninguém
E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo.
Sei que ela terminou
O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei
Ela falou: - Você tem medo.
Aí eu disse: - Quem tem medo é você.
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém
Ela me disse: - Eu não sei mais o que eu
sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.
E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo.
(Ico-Ouro Preto / Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá)