Maria Rita está encontrando o seu lugar. Não que o lugar dela seja definitiva e propriamente o samba; contudo por meio de seu novo cd – “Samba meu” (2007) – e principalmente do show homônimo, a cantora se encaminha para grande personalização e domínio artístico de sua carreira. Desta forma, isenta-se, pouco a pouco, das comparações e influências que vez por outra vinham permeando a sua trajetória.
No palco, a paulistana Maria Rita faz o seu terceiro cd crescer imensamente, como pode ser visto na noite de 14 de dezembro em Porto Alegre. Confessadamente tensa e emocionada por apresentar o show pela primeira vez em teatro (a estréia foi em uma casa de shows do Rio de Janeiro, com uma configuração diferenciada), a cantora ressaltou a sua ligação positiva com Porto Alegre, estabelecida a partir do acolhimento dos gaúchos desde o seu primeiro show. E a resposta do público não foi diferente: “Samba meu” caiu nas graças da platéia; e como um bom espetáculo de samba, com uma intérprete e músicos extremamente competentes, contagiou o público do teatro transformando-o, por vezes, numa casa de samba com ares tipicamente cariocas, remetendo ao aclamado berço do samba que é o Rio de Janeiro.
Maria Rita está em ótima forma, segura, bonita – muito bonita – desenvolta e sem os excessos dramáticos e coreográficos tão recorrentes nas suas apresentações anteriores. O repertório do espetáculo é basicamente do disco novo e abre com os versos a capella de “Samba meu” (Rodrigo Bittencourt) e inicia a festa com a pérola “O homem falou” (Gonzaguinha), mas não deixa de fora canções marcantes na voz da cantora, como “Cara valente” (Marcelo Camelo), “Encontros e despedidas” (Milton Nascimento e Fernando Brant), “A festa” (Milton Nascimento), “Santa chuva” (Marcelo Camelo) – que mesmo destoante da atmosfera do show, foi um belo momento –, “Muito pouco” (Moska), “Contra outra” (Edu Tedeschi), “Veja bem, meu bem” (Marcelo Camelo). No mais, a festa se deu mesmo pelas canções do cd recém lançado: “Novo amor” (Edu Krieger), “Cria” (Serginho Meriti e Cesar Bieleny), “Maltratar, não é direito” (Arlindo Cruz e Franco), “Num corpo só” (Arlindo Cruz e Picolé), “Tá perdoado” (Franco e Arlindo Cruz), “O que é o amor” (Arlindo Cruz, Maurição e Fred Camacho) – com a deliciosa introdução pelo baixo acústico de Sylvinho Mazzuca – “Maria do socorro” (Edu Krieger), “Corpitcho” (Ronaldo Barcellos e Picolé), “Casa de Noca” (Serginho Meriti, Nei Jota Carlos e Elson do Pagode). Senti falta de “Mente ao meu coração” (F. Malfitano), que tem registro belíssimo no cd, com a participação de Hamilton de Holanda.
Se na primeira parte, o show apresenta uma Maria Rita sensual (com saia esvoaçante de profunda fenda, perna, coxa, barriga à mostra) e flertando com o samba e com a platéia; a segunda parte, mais pagodeira, traz a cantora (num vestido curto, brilhante, colado) ainda mais descontraída, leve, imersa e entregue ao samba. E, ao convite dela, a platéia entra totalmente no clima.
No entanto, Maria Rita não é sambista, e ela bem diz que “não virou sambista”, mas sim está prestando uma homenagem ao samba e reverenciando os compositores do gênero com quem ela tem mantido contato mais estreito recentemente. De certa forma, ultimamente cantar samba virou moda – faço coro com Chico César e digo que é ótima essa moda –, entretanto pode sempre dar margem a aparições oportunistas em detrimento daqueles que são sambistas e fazem samba de verdade. Felizmente, oportunismo não parece o caso de Maria Rita, que propõe uma descontraída homenagem, uma vez que “marketing” ela tem de sobra desde o início de sua carreira.
A linha do samba de Maria Rita é mais voltada ao samba contemporâneo, ao pagode de fundo quintal; diferentemente de outras grandes cantoras como Teresa Cristina – “Delicada” (2007) – que é do samba e faz um samba tradicional, na linha nobre de Paulinho da Viola e demais mestres da Portela; de Roberta Sá – “Que belo estranho dia para se ter alegria” (2007) –, que conscientemente não se revela sambista, mas que tem no seu trabalho de intérprete muitos sambas, mas não somente; de Juliana Amaral – “Juliana samba” (2007) – de voz precisa e límpida, que faz um samba com gosto requintado e tradicional, sem se valer de elementos outros (como tendências “eletrônico-contemporâneas”) para soar moderna; e da maravilhosa Fabiana Cozza – “Quando o céu clarear” (2007) –, cantora de uma energia e talento raros, do samba, para o samba e para qualquer canção, e que reúne elementos da cultura em torno da mais pura raiz do samba, algo – sem comparação, mas apenas como direção – na linha magistral de Clara Nunes.
Pois bem, o samba de Maria Rita reafirma com mais força o seu grande potencial como intérprete, cantora, artista. O cd é delicioso, e o show, imperdível.
Anderson Kovalsky (15/12/2007)
FOTOS: http://picasaweb.google.com/andersonlk/MARIARITA
VÍDEOS: http://www.youtube.com/profile?user=ANDERSONLK
2 comentários:
Perfeita definicao.
Conclusao:
Maria Rita é um sucesso.
\o/
Anderson, que texto !!!!!!!!
Fiquei encantada, não só com ele, mas com teu blog inteiro.... !!!! Vou linká-lo ao meu... (http://eternofugaz.blogspot.com/)
Também escrevi sobre o "nosso" show... ressaltando mais meu aspecto fã apaixonada e encantada com a magia daquela noite !
Enfim, teu texto está algo... PARABÉNS!
Ah, e essa citação da Clarice então ?! De tirar o fôlego...!
Beijos,
Gabi Ferrony
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